Powered By Blogger

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O VENTO FRIO...


Ouço o assobio do vento nas frestas da janela dessa casa que não é minha...
O som do vento me remete a lembranças de uma recente infância
Nem tanto perdida, quando eu à noite com medo, no cobertor me escondia.
Tinha medo de um monstro que à noite, viria com o vento pra me pegar.
E o vento cantava, uivando na noite escura e fria, de mais um dia de inverno.
Como essas noites que hoje vivo, e me faz recordar da infância
Não tenho os medos de outrora, quando minha mãe me acodia à beira da cama
Hoje tenho outros medos, mas minha mãe não pode mais me acodir...
Essa é uma das barras de ser adultos... Temos que nos acodir dos nossos próprios medos, dos pesadelos noturnos... Do monstro que vem no sopro do vento...
Mas o vento que ventava na minha infância aparentemente não é o mesmo de hoje, quando adulto sou, parece ter envelhecido como eu...
O vento frio que sopra lá fora, ora furioso, ora sinistro... me remete à lembranças de um menino, que era mais temente e mais crédulo às lendas do que o homem de hoje. Mas também era mais feliz, sem a carapaça que o amadurecimento nos invoca ter...
Mesmo quando tenho meus medos, não os revelo de chofre, não os deixo à mostra e nem me fragilizo diante deles, não por ser mais forte que o menino que eu fora, mas por não dar o braço a torcer...
O vento continua a soprar frio... Penetrante em seu uivo assombroso, entre as frestas da janela, entre as folhas das amendoeiras... Levando e trazendo perdidas lembranças, coisas de um menino feliz... Que tinha mais sonhos que pesadelos, e um divertido medo da noite.
E o vento frio empurra as lembranças, noite adentro... Impenetrável noite fria, onde as folhagens rangem, os gatos miam no cio e os cães ladram para os fantasmas...
E aqui nesse inverno de 2010, penso em coisas e pessoas que se foram, levadas ao sopro do vento frio... Como passos que ecoam na calçada madrugada a fora, ou vozes perdidas no eco da noite...
Ou aqueles estranhos gemidos do casal, ou o roncar do motor do velho Chevrolet...
O vento frio passa impávido por eles... Por mim, ainda menino, por mim homem já feito... A relembrar os medos de outrora... E a renegar os medos do presente...
Ao vento frio que sopra, pelas frestas das janelas e pela folhagem da amendoeira...
O mesmo vento frio que me traz lembranças da infância...
O mesmo ventro frio que me faz pensar no futuro...
E afastar do pensamento os medos de outrora
E apesar disso, o vento frio sempre soprará nessa mesma época do ano... Independente de eu ser um menino assustado ou um adulto comedido...
O vento frio soprará e soprará até que o último ser humano deixe o planeta...
E continuará soprando, até que não exista mais inverno
Ou que tudo se transforme num deserto quente e árido,
Ou que retornemos à Era Glacial.
O vento frio soprará absoluto, enquanto meus medos de menino continuarem a permear os pensamentos deste adulto...


Beijos e abraços enfeitiçados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário