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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

DEDOS...

Essa íntima sensação dos meus dedos
Tocando suavemente os dedos seus
Exorcizando imaginários medos
Ou o momento sombrio de um estúpido adeus...

Sentir entre os dedos nossos segredos
Escondidos na alma entre misteriosos véus
Contando nossas vidas como enredos
Quando seus dedos sutilmente tocarem os meus...

Nos reconhecemos em nossos enganos ledos
E transformamos esse processo sem juízes nem réus
Nós, dois pagãos, sem templos ou credos

Provocando o amor, como quê brincando com Deus
Nos tratamos cerimoniosos e cheios de dedos
Mas querendo no poder do gozo subirmos aos céus...



João C. Lima.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

QUE TODOS OS DIAS SEJAM DE PRIMAVERA...

Que todos os dias sejam de Primavera
Mesmo sob chuva ou nublados, sejam coloridos
Que se propaguem além de suposta quimera
Deixando os dias harmoniosos e floridos...

Estar ao seu lado, sorrindo, quem me dera
Pra findar com esses dias inúteis e doridos
Mas nada será em vão depois dessa longa espera
Ao desabrochar o querer que aguçou nossos sentidos...

Vamos caminhar abraçados por alguma riviera
Que nossos sentimentos, de amor, sejam revividos
Na explosão dessas flores que na estação impera

Recuperar com paixão momentos outrora perdidos
Então, que todos os dias sejam de Primavera
Para o amor florescer em nossos corações escondidos...



João C. Lima.

GRIS...

Ao despertar, por si, a manhã dizia
Sob nuvens de um céu lúgubre e cinzento
Que traiçoeiro minha parca alegria subtraía
Estagnada num horizonte distante e nevoento...

Ainda não tirei a farpa atroz que feria
Meu coração por um torpe sentimento
Sem entender a sensação que me cingia
Nem a tristeza que rebusca cada momento...

E o Sol jaz incógnito nesse opaco dia
Na rua guarda-chuvas abertos em movimento
No espelho minha face pardacenta mal fingia...

Reflexos da paixão que nublou meu pensamento
Das ruínas das escolhas estúpidas a dor então se erguia
Enquanto o dia findava gris na rudez deste lamento...



João C. Lima.

sábado, 12 de setembro de 2020

ÁGUA E AREIA...

Ela caminha solitária
Pela praia
Enquanto o Sol desmaia
Anunciando o fim da tarde.
Nada é ou será como antes
Depois que a vi
De vestido branco, de alças
Descalça
Caminhando pela areia...
Solitária.
Ela que sorri pra si mesma
Brejeira
Deixando meu coração bobo
De novo acelerado
Como há muito tempo não fazia
Não sentia
Ou não sabia ser.
Ainda não sei, talvez nunca venha a saber
O que me reserva essa sua caminhada
Nem seu sorriso
Ou seu jeito de caminhar...
Quando a espuma das ondas
Toca seus pés descalços
Cobrindo-os com água e areia
Ela salta sentido frio nos pés...
Dá uma risada
Me fazendo rir...
Eu nada digo, em palavras
O que meus olhos por si revelam
Mais do que pude entender
Ou esconder...
O vento sopra desalinhando seus cabelos
Levantando seu vestido, de alças
Ela dá risada... Tão menina-mulher
Sem medo da onda de amor 
Que vinda do seu coração
Explode generosamente no meu.

E ela caminha pela areia da praia
Solitária...
Brejeira...
Com seu sorriso
Em seu vestido branco, de alças
E seu desejo a voar feito gaivota
Com seus cabelos em desalinho
Com sua pele coberta de sardas
Com seus olhos de paixão
E caminha...
Deixando marcas por onde passa
Com seus pés descalços
Delgados
Delicados
E cobertos de água e areia...



João C. Lima.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

TROVAS DE SAUDADE...

Sinto saudade
Das saudades que sinto
Saudade é maldade
Que com sorrisos finto...

Saudade é assim
Vem como avalanche
Debocha de mim
Faz com que eu me desmanche...

Não dá pra medir
Seu tamanho ou quantidade 
Só dá pra sentir
Que é saudade...

Saudade vem e vai
Como borboleta pelo jardim
É como a chuva que cai
Ou a tarde chegando ao fim...

Como as ondas do mar
Tocando a areia dourada
Saudade é coisa sem par
Nos leva do tudo ao nada...

A saudade é tanta
De tantas coisas a saudade
Dá um nó na garganta
Rouba a pouca sanidade...

Saudade é cruel
Espezinha com o sentimento
Mistura mel com fel
Embaralha o pensamento...

Sentir saudade é bom ou ruim?
Me diga então o que devo fazer?
Carrego lembranças de onde eu vim
E de outras que eu queria tanto viver...

Saudade de ser criança
Do que foi ou do que for
Pra manter viva a esperança
De matar a saudade de um velho amor...



João C. Lima.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

NA NATUREZA DO SEU CORPO...

No mar dos seus castanhos olhos, posso até me afogar
No vulcão dos seus lábios corro o risco de me queimar
Na floresta do seus pêlos com certeza vou me embrenhar
Nos picos dos seus seios, com a afã quero escalar...

No lago do seu umbigo, quero com Oxum encontrar
Nas lágrimas da sua alegria, quero também me banhar
Nas encostas do seu sorriso, quero ser feliz sem pensar
Na planíce do seu abdômen quero serenamente deitar...

Nas dunas de suas nádegas, quero deliciado admirar
Na península de suas pernas, quero discorrer sem parar
No seu jardim pubiano, quero minha libido cultivar
Na gruta do seu sexo, quero do mundo me ocultar...

A geografia do seu corpo instiga meu desejo de explorar
Cada rio, lago, floresta, montanha, e todo seu ínitmo mar
Essa sua Natureza selvagem que vem a minha domesticar
Mas é na caverna do seu coração que sonho pra sempre morar...


João C. Lima.

sábado, 5 de setembro de 2020

DESASSOSSEGO (DECESSO)...

Quero deitar minha cabeça nesse relvado orvalhado e terno
Fechar os olhos e ouvindo a voz da Terra, finalmente descansar
Das atribulações desse anormal mundo real e moderno
De tudo que tem me roubado a paz e o desejo de sonhar...

Que esse último repouso se faça assim sublime e eterno
Quem sabe desse mar de tristezas alguém venha me resgatar
Pra estancar a sangria deste meu ferimento interno
Na iminência desta vida para todo sempre abandonar...

Me sinto muito triste e sozinho, por todo esse tempo tanto 
Mas tardiamente despertei e dessa verdade não desapego
Sequei por dentro de tanto verter o tal vil e turvo pranto

Que ao deitar nesse relvado aos céus sem noção peço arrego
Silenciosamente sinto o decesso me cobrir com o seu escuro manto
Até que o coração pare, libertando minha alma deste desassossego...



João C. Lima.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

CONTANDO ESTRELAS...

Gosto de lugares remotos onde há pouca luz artificial
E os céus parecem mais amplos e suas nuances mais belas
Onde luzes celestiais brilham e rebrilham intensamente ao seu natural
Encantando os olhos impuros com suas miríades de estrelas...

Aqui no interior do interior desta distante cidadela
Em que à noite se pode ouvir o som do rio sinuoso e gutural
Ou os sons dos inúmeros animais em que a noite escura vela
Como se o mundo inteiro fosse um único e imenso quintal...

Aqui onde posso ficar olhando as estrelas no infinito
Quase todas, tantas quantos o meu olhar puder alcançar
Sob o veludo deste céu azul escuro estranhamente bonito
Volto a ser criança quando me pego as estrelas, a contar...

Reconheço entre elas, algumas constelações e planetas
Tão vivas em meus sonhos de infância de viagens espaciais
Quando me via navegando na cauda de velozes cometas
Ou singrando pelo vazio do espaço tão sozinho quanto em paz...

Sem perceber passo horas a fio, olhando as estrelas no firmamento
E imaginando em qual delas, ao fim desta vida, irei morar
Nessa profusão de sensações que transformam o sentimento
De estar a esta hora aqui, longe de tudo, neste outro lugar...

A noite passa dando sua vez às profundezas da madrugada
Enquanto as estrelas mudam de posição em sua dança sutil
Diante delas me sinto tão pequeno, ínfimo, um quase nada
Mas a salvo desse mundo tão frio, sem graça e hostil...

Abro os braços desejando apaixonadamente abraçar todas elas
Sinto que o mundo ao meu redor em seu carrossel vai girando
Chego a vislumbrar o último brilho furtivo de algumas estrelas
Enquanto a luz do Sol vem suavemente o véu noturno desmanchando...



João C. Lima.