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segunda-feira, 29 de junho de 2020

PARTIDO CORAÇÃO PARTINDO...

Vou por aí partindo corações
Com o meu coração partido
Vivendo e revivendo as desilusões
Vou na emoção me consumindo...
Causei e sofri algumas decepções
Ao longo desse tortuoso caminho
Sob qualquer Sol ou na força das monções
Sei que minha sina é ser sozinho...

Vou por aí partindo corações
Com o meu coração combalido
Vivendo e revivendo as sensações
Vou na tristeza me diluindo...
Ensinei e aprendi algumas lições
Ao longo desse insólito caminho
Sob qualquer Sol ou na chuva dos verões
Sei que o coração não se aquece só com o vinho...

Vou por aí partindo corações
Com o meu coração destruído
Vivendo e revivendo as impressões
Vou no desejo me reprimindo...
Vi e mostrei algumas revelações
Ao longo desse insondável caminho
Sob qualquer Sol ou na fúria dos tufões
Sei que ave migratória não tem ninho...

Vou por aí partindo corações
Com meu coração sem sentido
Vivendo e revivendo as imperfeições
Vou na paixão me permitindo...
Vivi e morri algumas emoções
Ao longo desse incógnito caminho
Sob qualquer Sol ou na seca dos sertões
Sei e sinto meu partido coração partindo...


João C. Lima.

O AMOR E A DOR...


O amor e a dor 
Caminham no mesmo passo
Como a transparência e a cor
Ocupando um só espaço...

O amor e a dor
Se completam em seu todo
Não importa como ou onde for
Cada qual a seu modo...

O amor e a dor
Se repelem e se atraem
Um tentando ao outro se impor
Mas de dentro do coração não saem...

O amor e a dor
Se consolam na desilusão
Um gera paixão o outro rancor
E juntos a solidão...

O amor e a dor
Me acompanham por esta estrada sem fim
A dor e o amor
Agora sei, vivem dentro de mim.


João C. Lima.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

INEXORÁVEL...

Meu coração é como um barco
Com velas abertas a todo vento
Partindo pra longe deste mundo farto
De transitório quanto inseguro, sentimento...

Me sinto longe de tudo ao redor
Desta casa, das coisas, dos poucos amigos...
Sigo aberto à vida e ao que ela propor
Navegando solitário entre a paz e os perigos...

A cada novo dia vou soltando as amarras
Que me prendem a tempos ao seu frágil cais
Desatento às repetidas histórias que narras
Vou sutilmente partindo, sem olhar pra trás...

"As coisas mudam", disse-me alguém
E o sentimento também é mutável
Quando o coração não quer mais ser refém
O desejo de partir se torna inexorável...

Meu coração é como um barco
Singrando pra longe do que foi uma vida
Quando duas existências findam num arco
Só resta o adeus da despedida...


João C. Lima.

terça-feira, 23 de junho de 2020

NÉCTAR...


Senti como um beija-flor
Quando seus lábios toquei
Coração explodindo em furor
No ato em que sua boca beijei.

Voei sem sentido ou que for
Perdido e sem Norte fiquei
Nunca recebi tanto amor
E nem tanto amor desperdicei...

Na poesia mero versejador
Sem você, apaixonado, voei
Confundindo amor com labor

Outros jardins então explorei
Mas em nenhum encontrei uma flor
Com o néctar que em seus lábios provei...


João C. Lima.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

MAIS VELHO...

Diante do espelho os cabelos grisalhos
Contrastam com a pele escura
Lembranças quebram-se como galhos
Enquanto a sensibilidade se depura

O reflexo no espelho evidencia as rugas
Reentrâncias que a vida não deixa esquecer
Ansiedade da paz ou feridas das rusgas
De batalhas passadas ou ainda por ser...

Há muito desisti de competir com o tempo
Para acompanhá-lo é preciso mais que sabedoria
Sentir sua presença em cada movimento

Contemplar a noite vislumbrando o dia
Transformar o mundo em seu próprio momento
E entender sua passagem, como versos de uma elegia...


João C. Lima







sexta-feira, 19 de junho de 2020

CAFÉ PRETO... E PÃO FRANCÊS COM OVO.


Na lembrança viva ainda arde...
Da Tijuca, naquela "nossa" antiga padaria
Onde a garçonete sorria matreira quando nos via
Quando íamos tomar aquele café no finzinho da tarde...

O café tinha que ser além de quente, preto e sem leite
E pra saborearmos e repetirmos de novo
Um belo sanduíche de pão francês com ovo
Completava de todo o nosso deleite...

E conversávamos sobre tanta coisa afim
Nosso papo fluía solto e o tempo passava por nós
Você se abria com a sutileza da sua voz
E eu como sempre falava tão pouco de mim...

Nosso encontro repetíamos com renovado prazer
Pra conversarmos um pouco sobre tudo
Às vezes ficava te ouvindo, admirando mudo
A eloquência das suas palavras a me embevecer...

Almas gêmeas nem sempre juntas estão
E a gente se curte com essa força além do carinho
Se afastando e se reencontrando no mesmo caminho
E se aquecendo sem perceber na chama da emoção...

Parece imaginação, mas ainda posso sentir
O cheiro e o vapor do café posto sobre a mesa
E o pão francês com ovo, de saborosa riqueza
Que a gente na gula pedia mais um pra dividir...

Mas o café em si, é mais que um pano de fundo
Pros nossos encontros nas tardezinhas da Tijuca
Onde esquecíamos desta cidade maravilhosa e maluca
Tão interiorizados ficávamos naquele nosso mundo...

Hoje estamos meio distantes assim...
Esperando aquele café que ainda não veio
O papo gostoso que deixamos sem querer pelo meio
E a velha paixão que ainda não chegou ao seu fim.

João C. Lima











terça-feira, 16 de junho de 2020

A ARTE DA TECELÃ...


A aranha a teia tece
Em seu meticuloso
Sobe e desce
Sem medo do vento e do tempo
Vai ela tão delgada
Tecendo a rede delicada
Em seu sutil movimento.

Seu tear fico admirando
No seu paciente trabalho
Seus fios sob o Sol brilhando
Como mágicas vias
Que ela tece com apreço
Sem pressa desde o começo
Ou medo das intempéries dos dias.

Tecendo a trama quase sem fim
Além do tempo ou espaço
Entre as plantas do jardim
Centrada em seu universo
Estica os fios ligando-os com simetria
Borda e reborda com maestria
Como um poeta rebusca seu verso.

Perco a noção do tempo e da hora
Observando-a no jardim bordando
Admirador privilegiado sou dela agora
Tecendo sua rede, nesta cálida manhã
Vai assim em seu tecer ziguezagueando
Enquanto o tempo do tempo vai passando
Eu me extasio olhando a arte da tecelã...


João C. Lima.







 


segunda-feira, 15 de junho de 2020

ESCOLHAS...

Escolhas
No vento
São folhas
Na água
Bolhas
De sabão
Que a brisa
Leva 
Mas não se desfaz
No pensamento vão.

Escolhas
No caminho
São trilhas
Na estrada
Milhas
De asfalto
Que o carro
Cruza
Mas não se vê
No pensamento pauto.

Escolhas
No tempo
São horas
No amanhecer
Auroras
Do dia
Que a estação
Muda
Mas não se transforma
No pensamento elegia.

Escolhas
No rio 
São águas
Na correnteza
Léguas
Do ribeirão
Que a cachoeira
Deságua
Mas não se afoga
No pensamento solidão.

Escolhas
No amor
São sensações
Na paixão
Emoções
Do sentir
Que o coração
Explode
Mas não se finda
No pensamento porvir...


João C. Lima.















quinta-feira, 11 de junho de 2020

DEVORADOR DE ESTRADAS...


Minha alma devora estradas
Tanto asfalto, quanto terra
No retrovisor, vidas passadas
Rumores de paz, silêncios de guerra...

E vou devorando estradas sem fim
Com a avidez de quem não quer chegar
Sempre tão juntos, distantes no fim
A hora se faz de outros rumos rumar...

Quero partir pra longe daqui
Pelas trilhas que trilho descobrir lugarejos
Buscar um sorriso que me faça sorrir
E um corpo quente pra sublimar meus desejos...

Sentir no rosto a poeira dessas idas
Ir ao futuro, viver o presente, sem temer o passado
Tantas entradas nessas estradas, tão poucas saídas
Pra esse amor pelas intempéries da vida sovado...

Hoje conciso, não preciso muito pra viver
E pra morrer de amor quase nada, eu diria
Entre morrer ou viver desse amor por você
Escolhi a solidão das estradas como companhia...



João C. Lima.

sábado, 6 de junho de 2020

AMANTES DE ALMA...

Mesmo distantes...
Um ao outro ligados
Na inconstância constantes
Sentidos sintonizados
Um do outro por instantes
Na paixão eternizados
Nas ideias brilhantes
No amor desatinados.

Mesmo afastados...
Um do outro, perto
De emoções carregados
Sentimento aberto
Um no outro, plugados
Nesse porvir incerto
Pelo cupido flexados
Desse desejo concreto.

Mesmo remotos...
Um ao outro frequentes
Nas canções e nas fotos
Nunca de todo ausentes
Um do outro, devotos
Nesse sentir, presentes
A causar terremotos
Nos corações e nas mentes.

Mesmo sem perceber...
Um ao outro acalma
A força do bem querer
Afasta da desilusão o trauma
Um ao outro pertencer
No amor nesse agalma
Onipresentes, num ser
Dois amantes de alma...


João C. Lima.


















quinta-feira, 4 de junho de 2020

O SEU CABELO ESCURO...


Na noite adentro, o seu cabelo escuro
Rouba por querer das estrelas a luz
Como a purificar esse ar impuro
Sob a brisa noturna, ele dança e seduz...

Na madrugada afora, o seu cabelo escuro
Ofusca a luz da Lua, se luar houver
Em ondas amolece meu coração tão duro
Me enlaçando em você sem eu nem perceber...

Na manhã acima, o seu cabelo escuro
Intimida o Sol, a ponto dele entre nuvens nublar
Me põe de joelhos e eu até juro...
Noutro cabelo jamais me enredar...


João C. Lima







terça-feira, 2 de junho de 2020

MARIA-FUMAÇA...



Numa antiga estação de trem
Aguardo a Maria-Fumaça chegar
Aqui no interior do interior de algum lugar
Onde lembranças distantes sempre me vêm...

Sentado no banco rústico de madeira
Estou sozinho nesta vazia estação
Sentindo um "nada" em meu confuso coração
Enquanto a luz do Sol vem deitar sobre a soleira...

Vejo entre os trilhos, folhas secas sopradas ao vento
E a poeira que dança zonza com algum redemoinho
Na viga que segura o telhado, um abandonado ninho
Como eu me sinto neste preciso momento...

Ouço passos na plataforma escura de concreto
Mas posso ver que não há ninguém passando
Talvez fantasmas de um passado, também esperando
Esse enigmático trem, de horário incerto...

Me concentro em meus pensamentos perdidos
São tantos quantos as pedras do "lastro" dessa via
Nessa remota quanto abandonada ferrovia
Posso até escolher entre meus delírios tão sortidos...

Ao longe ouço o apito estridente da Maria-Fumaça
E vejo subir aos céus a fumaça que da sua chaminé sai
O embalado trem vem chegando, pra pegar quem nunca vai
Enquanto uma lágrima furtiva minha visão embaça...

Quando a locomotiva pára estremecendo a estação com seu porte
Vejo que os vagões estão vazios... Sem passageiro algum...
Embarco solitário... O apito toca deste trem de destino incomum
Então entendo, que cada um escolhe seu meio de partir, após a morte...


João C. Lima.