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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

FOLHAS SECAS...

Vejo as folhas secas
Sopradas na madrugada
Tristes folhas
Sem vida, sem cores, sem nada...
Na varanda abandonada
Parecem emoções perdidas
Ao longo dessa estrada
De percepções aturdidas
Sem vida, sem cores, sem nada...
Folhas secas solitárias
Como tenho vivido e sou
Na manhã descortinada
Sou só restos do que restou
Folhas secas solidárias
Me fazem companhia
Onde vou...

Folhas secas
Foram sopradas
Pelo vento vadio da madrugada
Junto com a poeira do pensamento
Da insônia fez morada
Como eu falso poeta
Que versos torpes arquiteta
Como folhas secas caídas
Não há retorno
Só partidas...
Folhas secas como eu sou
Sou só restos do que restou
Folhas secas sopradas
Na madrugada
Sem vida, sem cores, sem nada...



João C. Lima.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

FAROL...

Eu que um dia sonhei em ser um farol
Pra iluminar o seu noturno e revolto mar
Mas minha luz mal iluminou do seu coração, o atol
Então resolvi, lentamente, da sua vida me apagar...

Pretensão a minha querer ser na tempestade seu farol
Quando você tem sua própria estrela a te guiar
É como querer iluminar a sombra do próprio Sol
Ou das imensas ondas toda a fúria aplacar...

Hoje sei que não posso com minha presença iluminar
Alguém que criou seu próprio amanhecer e arrebol
Aprendi que nem toda escuridão quer a luz como par

E nem todo corpo precisa de um outro como lençol
Que é impreciso contra a correnteza dos sentimentos nadar
E pra chegar ao porto, nem todo barco precisa de um farol...



 João C. Lima.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O AMOR...

Chega de repente
Não avisa quando vem
Mexe dentro da gente
Faz o mal, sendo bem...

Poderoso, lúdico, envolvente
O coração faz de refém
Complexo, quando simplesmente
Todas as sensações em si contém...

Distorce a razão
Construtivo quanto arrasador
Transcende a intangível emoção

Mistura na vida, prazer e dor
É luz e trevas, na solidão
Súbito e incontrolável, o amor...



João C. Lima.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

ARMAÇÃO DOS BÚZIOS...

Aqui da varanda vejo os barquinhos
Balançando nas águas daquela baía
E a faixa de areia onde as ondas
E o vento vem naufragar
Nesse dia gris de céus nevoentos
E tristes
Trago no peito a simplória alegria
De rever o mar...
Acalmar meus olhos 
Desativar meus instintos
E me desligar dos problemas
Que junto comigo sempre estão...
Ter tempo pra pensar em nada
E nada ser nessa imensidão
Só mar e céu
Nesta distância fluídica
Só num amor possível pensar...
Esquecer os esquecimentos
Somente esquecer...
Acordar amanhã pela manhã
Pra novamente esquecer
E deixar o silêncio me ninar
Nos braços da paz...
Só céu e mar
Nada mais...



João C. Lima.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

ELA E O CAFÉ DA MANHÃ...

Ela tocou minha mão com sua mão delicada e fria
Logo cedo, quando o Sol despertou num céu cor de romã
No exato momento em que displicente, eu bebia
O café na caneca, tão quente, quanto uma febre malsã...

Ela sorriu, e seu sorriso, sempre foi tudo que eu queria
Como se só seu sorriso preenchesse o meu remoto afã
Mesmo acenando ao meu coração com sua tímida alegria
Seus lábios atrevidos tocaram os meus, com sabor de hortelã...

Ela conquistou meu mundo e minha alma que já se desprendia
Pensei que fosse desígno de Deus ou artimanhas de Satã
Essa mulher de tantos segredos que minha solidão abolia...

Vem aquecer meu corpo a noite, com sua presença real e sã
Ao despertar, em nosso abraço, a pura felicidade se irradia
E depois, abusada, em minha caneca, bebe o café da manhã...



João C. Lima.

IR EMBORA...

Ela chegou quando eu já ia embora
Eu que mal chego, já me faço partir
Ela demorou a chegar e essa sua demora
Minha partida não pode mais impedir...

Estou sempre indo, como vou agora
Com tristeza nos olhos e o coração a explodir
Parto com meus versos que minha pele decora
Reaprendendo a chorar, desaprendendo a sorrir...

Queria ficar, mas o desejo em meu ser aflora
São tantas emoções, que chego a submergir...
Dominante a saudade que minha alma devora

Deixo o presente, levo o passado, sem pensar no porvir...
Ela que chegou, quando me faço ir embora
Sabe que nem sua chegada pode impedir meu partir...



João C. Lima.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

UM DIA QUENTE(DERRETE)...

Um dia quente
Derrete a gente
O asfalto
O pensamento...
Um dia quente
Derrete a coragem
De ir e vir
Derrete a rua
Os carros 
A sola do tênis
Derrete as roupas
E até quem está sem 
Derrete...
Derrete, o normal
E o avesso, derrete
Derrete a vida, 
A sobrevida, derrete
Derrete o Sol
Derrete a Lua
E as estrelas, derrete
Derrete as montanhas
Os edifícios, os viadutos
Derrete...
Derrete o apetite
Mas não a sede
Derrete o poste
A poça, o poço
Seca.
Ferve o mar
Ferve o ar
Mas derrete até
O que se repete
Derrete...
Derrete os planos
Os projetos
O sonhos, derrete...
Ferve a febre
Enlouquecidos termômetros
Derrete...
Um dia quente
Derrete o começo, o recomeço
E até o fim, ele derrete
Derrete a nuvem
Que trazia chuva
Aquece o vento fresco
O ventilador, a geladeira
O freezer, o ar condicionado, 
Derrete...
Derrete, toda cidade
Que parece um inferno
E até se inferno fosse
Um dia quente, 
Derrete...



João C. Lima.