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domingo, 28 de fevereiro de 2021

POR ENTRE OS DEDOS...

Entre minhas tantas tolices deixei escapar esse amor
Talvez por excesso de cuidados ou outros tantos medos
Troquei a ternura de um carinho pela rudeza da dor
E me fiz afundar num dos meus mais lúgubres segredos...

Sei que nunca mais vi um olhar tão cheio de candura e cor
E sofri como um idiota criando meus próprios degredos
Um amor não sobrevive só daquilo que o sentir supor
Como nem todos os enganos se fazem por si tão lêdos...

Vaguei por esse tempo, sem entender a falta desse doce ardor
Que deixei escapar como sempre repetindo meus torpes enredos
Hoje me atiro em busca dessa paixão seja do jeito que for...

Como as ondas aflitas do mar tentam se agarrar aos rochedos
Jurei para Deus, para o Diabo, ou para quem essa trama compor
Nunca mais deixar escapar um amor assim por entre os dedos...



João C. Lima.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

SUAS ILHAS...

As sardas em seu corpo são assim como ilhas
Onde naufragado de paixão venho ali me salvar
Trago do amor um oceano de maravilhas
Mas é na praia dos seus braços onde sonho me abrigar...

Minuciosamente exploro suas minúsculas ilhas
Em meu barco a velas impulsionado pelo vento de amar
Percorro pela enseada do seu colo essas trilhas
Numa viagem só de ida para nunca mais voltar...

Singrando as ondas insinuantes desse seu íntimo mar
Cruzando nossos sexos, como se fossem sensuais quilhas
Para que a nau do sentimento além do amor possa ancorar

Enquanto num maremoto de prazer em meus lábios fervilhas
Uno minha vida a sua, como o horizonte une o céu ao mar
Só para habitar o arquipélago do seu corpo, e viver em suas ilhas...



João C. Lima.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

RUA DAS AMENDOEIRAS...

Nessa rua onde todo dia caminhando passo
Dos seus dois lados há frondosas amendoeiras
Nesse velho caminho que rotineiramente faço
Caminhando vou recontando minhas tantas besteiras...

Entre folhas secas e amêndoas caídas, meu rumo traço
Logo nesta cidade com tantas esquinas e ladeiras
Mas na minha curiosidade de poeta mal disfarço
Vou sempre por essa rua, rente as casas, com suas eiras e beiras...

É de manhã muito cedo e sigo assim no meu justo compasso
Caminhando vou repreendendo minhas tantas asneiras
Me vejo sobre essas folhas repousando o meu lúdico cansaço

Enquanto o vento varre levantando pensamentos e poeiras
Repito esse caminho, como quem repete um longo abraço
Só pra admirar essa rua e suas frondosas amendoeiras...



João C. Lima.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

ENQUANTO CHOVIA...

Enquanto chovia
O café ela sorvia
E pra mim sorria
Com doce alegria
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Ovos mexidos frigia
A gente se ouvia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Longe uma coruja pia
A tarde a noite rompia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Nossa conversa fluía
Como deliciosa melodia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Carros passavam na via
A luz do poste acendia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Meu coração pelo seu ardia
Sua boca na minha sentia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Nossos corpos nus em harmonia
Gozando nessa sinergia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Seus braços nos meus cingia
E o prazer nos envolvia
Enquanto chovia...

Enquanto chovia
Lá fora nada se via
Dentro de nós, o amor crescia
Enquanto chovia...



João C. Lima.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

INSÓLITOS PIERROT E COLOMBINA...

Nesse atípico Carnaval sem carnaval, mesmo assim
Vamos nós dois separadamente juntos num cordão sem fim
No imaginário desfile de nossos blocos, assintomáticos e sem enredo
Estranhos foliões solitários, travestidos de esperança e medo
Somos todos, somos muitos, de realidade fantasiados
Alucinados, tão sem rumo, de ilusão e dúvidas disfarçados
Com nossas máscaras brancas cirúrgicas ou coloridas de pano
Desrespeitando o desrespeito nesse festim desumano
Nesse carnaval do vírus matando e dos distanciamentos sendo burlados
Misturamos álcool em gel com confete, sem oxigênio ou cloroquina
Enquanto dia após dia muitos vão sendo entubados ou enterrados
Somos insólitos pierrot e colombina esperando pelo milagre da vacina...



João C. Lima.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

CIRANDA...

O vento furtivo veio e remexeu as folhas pela varanda
E a poeira brilhante dançou num facho vadio da luz do Sol
Ouvi seus passos curtos e alegres vindos nessa ciranda
Como o bater de asas dos pássaros em algum belo atol...

Peguei no ar todos os beijos que você tão louca me manda
E o seu cheiro gostoso e perene que impregna o meu lençol
Em seu jardim há borboletas balouçando entre os ramos de lavanda
Enquanto você cantarola lindas melodias em si bemol...

Em sua íntima dança na ponta dos pés você leve rodopia
Girando seus cabelos negros sob o zênite azul desse céu
Me envolvendo no calor terno de sua exuberante alegria

Afastando a maldade de nossas vidas e todo o seu fel
Seguimos assim bailando nessa nossa tão terna folia
Enquanto em meio a dança, sinto meus lábios em seus lábios de mel...



João C. Lima.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

NUANCES DO CORAÇÃO...

Quando me recolhi num canto qualquer do sentimento
E fiz um pacto secreto com a solidão
Veio ela, linda e sorridente invadir meu pensamento
E mexer fundo nas coisas que escondi no coração...

Quando pensei que seguiria só por algum tempo
Caminhando rumo ao vazio de minha própria imensidão
Veio ela, doce e carinhosa embaralhar meu pensamento
E soprar a poeira da tristeza que envolvia meu coração...

Quando um dia sequei minhas lágrimas ao sopro do vento
E pensei que nada iria me resgatar das águas da desilusão
Veio ela, sibilante e sensual, atiçar meu pensamento

E me atirar na fogueira da sua cama, com a fúria da paixão
Eu que pensei que não queria tão cedo outro envolvimento
Me vi num mundo por ela pintado, nas nuances do coração...



João C. Lima.