Dia a dia tenho deixado minhas asas crescerem...
Não sou como alguns que têm medo de voar
Mesmo não sabendo exatamente para onde ir
Mas no fundo eu sei...
Minhas asas normalmente crescem a noite
Quando relaxo os músculos e a mente
Posso ouvir no silêncio da madrugada
O crepitar de seu crescimento...
Espero que sejam asas grandes
Grandes o suficiente para o voo que pretendo e preciso dar.
Há tempos sonho em meus voos noturnos, soturnos
Por sobre os telhados e prédios do bairro onde moro...
Por sobre o Corcovado, o Pão de Açúcar, a Guanabara
O Museu do Amanhã...
Singro por ares que jamais voei, em sonhos
Por entre nuvens brancas e cálidas
Por entre desejos sutis e ardentes
Por entre as palavras
Palavras que nutrem meu coração e espírito...
Voar...
Ato único e poderoso de liberdade
Por isso cultivo minhas asas
Asas negras como eu.
Que crescem mais depressa na lua cheia
Que crescem enquanto durmo e sonho
Que crescem enquanto diminuo dentro de mim
O apego e interesse por coisas sem sentido
Ou o sentimento por pessoas que fingem sentir.
Cultivo asas negras e noturnas
Como as de um gigantesco corvo
Ou como uma enorme coruja
Em seu voo predador.
Sou predador das distâncias e limites
Da ignorância patética e do desamor
Sou um viajante de asas negras...
Asas que só eu vejo crescer
Que cuido em silêncio e com capricho
Para numa noite dessas voar
Ou quiçá sob a luz do sol crepuscular
Alçar um voo plástico, alto e pra longe
E assim encontrar outras asas que também queiram voar
Para bem longe da apática mesmice
Dos sentimentos frouxos e sem sentido...
João C. Lima