Lembro-me bem, do primeiro contato que tive com a obra de Vinícius de Moraes, foi ainda no primário, tinha eu uns oito ou nove anos, na Escola Bolívar aqui no bairro do Engenho de Dentro, quando num livro em sala de aula li trechos de uma de suas mais famosas poesias feitas para crianças, que dizia assim:
"Era uma casa muito engraçada,
Não tinha teto não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não
Porque na casa não tinha chão... "
Esses versos ficaram em minha mente, dali passei a me interessar pelas músicas e poesias desse homem. A Bossa Nova fervia. Cresci consumindo e amando Vinícius, Tom, Baden, Chico, Edu Lobo, Toquinho... E tantos outros que ainda ouço e admiro. Mas Vinícius, o velho Vina, sempre mexeu comigo, e foi um dos responsáveis por eu amar tanto, as palavras, em versos e prosa. Esse fantástico brasileiro, nascido em 19/10/1913, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro, falecido em 09/07/1980, foi advogado, jornalista, diplomata, dramaturgo, escritor, compositor, que casou 9 vezes, era, como ele mesmo dizia o branco mais negro do Brasil, da linha direta de Xangô, porque ele, com toda sua fleuma diplomática, era um espírita candomblecista, feito no Terreiro de Mãe Menininha do Gantois, na Bahia. Era um brasileiro na raiz. Sem medo de em suas canções falar apaixonadamente dos Orixás, sem preconceitos ou conceitos abstracionistas.
Neste mês de outubro de 2013, Vinícius faria 100 anos, se vivo fosse... Aprendi que poetas não morrem, sublimam! Ele deixou um legado artístico único, com suas músicas, suas poesias e suas peças teatrais. Hoje a obra de Vinícius é conhecida em todo mundo, por todos aqueles que tem sensibilidade e bom gosto. Outro dia me emocionei quando vi as imagens do velho Vina, com Tom, Edu, Toquinho seu último parceiro, e tantos outros artistas fantásticos nascidos nesta terra. Em 2010 foi descoberto pelos filhos do Poetinha, uma letra inédita escrita há muito por ele, chamada "Silêncio", e que ficou a cargo de Edu Lobo musicar. Mesmo depois de todo esse tempo as obras dele continuam surgindo...
Recomendo que leiam, que ouçam Vinícius de Moraes, em nome da arte maravilhosa criada por esse brasileiro. Sei que alguns não gostavam dele porque bebia, porque teve muitos casamentos ou porque era espírita, mas esquecem o maravilhoso artista que ele foi, e ainda é, porque sua obra é imortal, como sua voz, como o tradicional copo de uísque e o cigarro sempre aceso entre os dedos de sua mão.
Sinto saudades de Vinícius, como se tivesse convivido com ele, com seus amigos e sua genialidade. Infelizmente não estive esse privilégio, mas o vi na tv, escutei suas músicas e li seus livros...
Vivemos tempos em que os ídolos se perdem na mediocridade, em que as letras das canções são repletas de rimas pobres. Tempos em que coisas de consumo rápido e fácil são mais valorizadas do que aquelas que tenham algum conteúdo...
Mas Vinícius não sobrevive em nossas lembranças, ele VIVE, em nossos corações e mentes, através de sua prosa, seu humor ácido e sua paixão incondicional pelas mulheres...
Que Vinícius de Moraes esteja sempre presente na trilha sonora de cada um daqueles, que como eu, amam oque é bom, a poesia e a boa música brasileira.
Encerro com outro trecho de uma de suas músicas, esta feita com seu parceiro Toquinho:
"Ah, meu amigo só resta uma certeza
É preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor..."
Beijos e abraços enfeitiçados