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quarta-feira, 31 de março de 2021

O SORRISO DE LUÍZA...

Quando ao meu redor tudo jaz inóspito e perdido
Quando os dias se fazem tão longos, confusos e gris
Quando extremistas e racistas ofendem com sua falta de sentido
Há uma doce razão que ainda me faz ser feliz...

Quando uma inundação de tristezas, afoga minha parca alegria
Quando a solidão me abraça com seu modo frio e desumano
Quando o encanto da vida parece perder a magia
Há um bálsamo que vem curar as feridas desse meu desengano...

Quando em devaneios, concluo que a este mundo já não pertenço
Quando a marca da desilusão fundo em minha alma frisa
Quando sigo por um caminho sem saber se é o fim ou o começo

O amor surge em meio as trevas e sutilmente sinaliza...
E na doce alvura dessa luz reconheço
Vindo pra me resgatar, o sorriso de Luíza...



João C. Lima.

QUANDO ELA GOZA...

Quando a rosa
Do seu sexo
Na glosa
Cor de rosa
Nesse anexo
Imperiosa
Desabrocha
Ao meu toque...

Que todo desejo
Num beijo
Provoque
Um tremor
Um choque
No ardor
A rosa
Licorosa...

Num turbilhão
Desse afã
Uma explosão
Em Aldebarã
Toda emoção
Luz da manhã
Sofreguidão
Festa pagã...

Olhos revirar
Alucina
Onda do mar
Mulher-Menina
A espraiar
Domina
Sob o luar
Divina!

Mãos
Embaraço
Galopa fogosa
Nos desvãos
Um só traço
Força misteriosa
Inunda o espaço
Quando ela goza...




João C. Lima.

quinta-feira, 25 de março de 2021

OUTONAL SAUDADE...

Hoje despertei, com a bruma da manhã a relva beijando
Depositando lágrimas de orvalho sobre o campo verdejante
Vi das árvores mais próximas folhas secas despencando
Como águas claras vertendo de um olhar lacrimejante...

E no meu peito desnudo apertou numa saudosa letalidade
De um tempo que com você sonhei, mas jamais vivi
Quando éramos amantes deslocados numa outra realidade
E deixamos na penumbra do quarto todo desejo eclodir...

De repente o vento quente empurra nuvens sob os céus azuis
Carregadas de loucos desejos, delírios e uma incontrolável vontade
De quando éramos como nuances do outono entre a sombra e a luz...

E nos despíamos sem medo ou pudor, numa ardente naturalidade
Hoje nos vemos distantes à mercê do tempo que nos conduz
Quando sorrimos e choramos na emoção de uma outonal saudade...



João C. Lima.

sábado, 13 de março de 2021

A RUA DE PARALELEPÍPEDOS...

Depois da chuva que caiu molhando a madrugada
Antes mesmo do Sol soberano sobre a cidade se anunciar
Sigo por essa vazia rua, em minha solitária caminhada
Tentando meus pensamentos soltos novamente reagrupar...

As luzes dos postes vão apagando lentamente ao chegar da alvorada
Caminhando vou ouvindo cada passo que dou pela rua ecoar
Como as maritacas em bando cruzam o céu em sua gritaria desesperada
Vou eu sem rumo ou direção e sem vontade de chegar...

Essa rua de tantas lembranças, de minhas muitas infâncias, talvez
Do jogo de bola, das pipas, dos piques, das meninas, do primeiro beijo
A cada passo que dou, sinto por dentro um passado que não se desfez...

De tempos bons onde a inocência se fazia presente, ignorando o desejo
Caminhando por esses paralelepípedos, volto ao passado outra vez
Entre sonhos perdidos e outros sonhos que ainda almejo...



João C. Lima.

segunda-feira, 8 de março de 2021

QUANDO A CHUVA PRINCIPIA...

Cinzentas nuvens vêm roubar o azul claro do céu
Um vento seco e quente sopra vigoroso e desnorteia
O mar escuro se agita em ondas cheias de fúria e fel
Enquanto um raio fulgurante pelos céus serpenteia...

Pessoas e pássaros fogem buscando onde se abrigar
Quando as primeiras gotas grossas das nuvens se desprendem
Logo se transformam numa forte enxurrada para tudo alagar
Ruas viram rios, praças são lagos, bairros inteiros enchem...

Parece que o mundo todo vai transbordar num só instante
Não há caminhos para ir, nem outros para voltar sequer
Os céus desabam numa torrente poderosa e constante...

E uma palheta gris detona as cores cobrindo os prédios no horizonte.
Então, lentamente a chuva vai diminuindo até por si se ater
Restando poças nas calçadas e um arco íris cruzando o ar feito ponte...



João C. Lima.

quinta-feira, 4 de março de 2021

PARA SER O SEU AMOR...?

Me diga moça dos olhos mongóis e negros cabelos
Como faço para tocar seu distante coração?
Seus lábios, seus seios, como faço para tê-los?
E tudo mais que for seu na palma da minha mão...

Me diga moça, da voz suave e mãos de pequenos dedos
Como faço para te revelar toda esta minha paixão?
Te contar tudo que sinto, quiçá até minúcias e segredos
Desde que você prometa me resgatar das sombras da solidão...

Me diga moça, do sorriso tímido e gênio forte
Como faço para amenizar em meu peito essa dor?
Se só sua presença pode cicatrizar dentro de mim este corte

Me diga moça, do corpo delgado feito os ramos de uma flor
Como faço para ser seu namorado, quiçá seu consorte
Como faço, moça, diga como faço, para ser o seu amor...?



João C. Lima.

quarta-feira, 3 de março de 2021

A VELHA JABUTICABEIRA...

Naquela mesma rua dos meus remotos tempos de menino
Havia uma antiga casa, com seu muro forrado por uma trepadeira
A provocar minha aguçada gula e desejo tão divino
Ascendia do jardim vertiginosamente uma majestosa jabuticabeira...

Juntava aos meus amigos, traçando nosso delicioso destino
Éramos tantos e nos multiplicávamos nessa pueril brincadeira
Então cada um incorporava um arisco e esperto felino
Pra escalarmos o muro atrás da nossa recompensa verdadeira...

Enquanto uns tiravam as frutas pretinhas nos troncos presentes
Outros vigiavam o dono da casa, sincronizados nessa tarefa brejeira
Depois sentados na calçada, devorávamos tudo vorazes e sorridentes.

Gozado como o passado nos chega assim de forma fugás e ligeira
Hoje no lugar da velha casa, há um moderno edifício, infelizmente
Onde meninos brincam no play e talvez jamais verão, uma velha jabuticabeira...



João C. Lima.