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quarta-feira, 21 de abril de 2021

VELHOS SOBRADOS...

Perambulo
Entre velhos sobrados
Abandonados
Talvez tão assombrados
Quanto eu...
Suas carcomidas fachadas
Tão velhas
E desgastadas
Mostrando que o tempo no tempo
Se perdeu...

Eu tão perto do fim
Busco nesses sobrados
Quem sabe sobras de mim
E perambulo
Tão nada, tão nulo
Entre os velhos sobrados
Um suspenso jardim...

Repletos de passado
E histórias tantas
Velhos sobrados
Com suas fachadas
Pichadas...
E seus vasos de plantas 
Em suas sacadas
Cheias de fuligem e pombos
Tristonhos assombros
Que a cidade 
Na sua velocidade
Se esqueceu...

Eu que ando tão sem um amor
Quanto sem rumo
Em meio ao meu caminho
Um tempo arrumo
Pra admirar esses velhos sobrados
Que estão por quase toda cidade
Num misto de desleixo
E saudade
Do que era antigo e se desfaz
De um tempo que no tempo
Não volta mais...



João C. Lima.

sábado, 17 de abril de 2021

SUAS LÁGRIMAS...

Dos seus olhos derramaram
Caíram tantas
Rios formaram
Encharcaram plantas...

Dos seus olhos marejados
Desceram cascatas
De tristezas inundados
Mortas fragatas...

Dos seus olhos a cor
Se desmanchou
Em dor...

Dos seus olhos, vazou
Para o mar, perdido amor
E me afogou... 



João C. Lima.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

JURA DE AMOR...

Hoje cedo um halo de luz do Sol penetrou pela fresta da janela
Pra iluminar o semblante adormecido dessa mulher em flor
Seus cabelos embaraçados no travesseiro, tal castanha procela
Contrastavam com os lençóis de alvíssima cor...

As cortinas balouçavam quando o vento sinuoso tocava nelas
Ela acordando se espreguiçou ao som monocórdio do despertador
Abrindo seus olhos que são como amêndoas pintadas em óleo sobre tela
Me brindou com o seu sorriso sedutoramente acolhedor...

A caneca de louça, ainda fumegava quando entreguei nas mãos dela
Ao me beijar senti nos seus lábios do café todo sabor
Felizes dançamos pelo quarto, tal qual, cavaleiro e donzela...

E por instantes esquecemos as mazelas que o mundo quer nos impor
Ali ternamente abraçados, como um só, eu e ela
Numa troca de olhares fizemos, silenciosa, nossa jura de amor...



João C. Lima.

domingo, 4 de abril de 2021

LAJOTAS...

Depois da chuva, poças formaram ilhotas
Sobre o caminho de pedras que leva ao coração
Soltaram-se trancas, abriram-se portas
Mas a moça não disse, nem que sim, nem que não...

Depois da madrugada, o orvalho deixou suas gotas
Sobre o caminho de pedras que leva a paixão
Onde borboletas desvairadas voavam tontas
Como um coração descompassado na sofreguidão...

Depois da noite densa, ecoou o pisar de botas
Sobre o caminho de pedras que leva a solidão
Onde um anjo negro, com imensas asas tortas
Veio sentenciar o amor, a essa prisão...

Depois do por do sol, a noite desceu em cotas
Sobre o caminho de pedras que leva a desilusão
E sentimentos mordazes vieram como agiotas
Querendo emprestar ao mundo essa aflição...

Depois da ventania, nuvens se deslocaram soltas
Sobre o caminho de pedras que leva além da razão
Pensamentos confusos e palavras pouco doutas
Formaram no âmago, uma torpe canção...

Depois do verão, o outono trouxe o amor em compotas
Sobre o caminho de pedras que leva a outra estação
Por onde, a moça descalça caminha pisando em lajotas
Vindo enfim me encontrar, quiçá pra sempre, então...



João C. Lima.