
Quem nunca sentiu ciúmes? De alguém ou de alguma coisa? Que sentimento mesquinho e egoísta é esse que nos toma de assalto e nos joga por vezes no limbo do ridículo? Poderoso sim, porque parece desnortear nossos pensamentos mais tenebrosos e ocultos... Nos faz revelar sem que possamos nos conter, nosso lado mais obscuro e sádico, a ponto de algumas pessoas se tornarem homicidas perigosos por culpa desse sentir absolutamente descontrolado.
Mas sentir ciúmes não deve servir de trampolim para loucuras homicidas, ou para que se atente contra a vida e honra de alguém. Nada justifica qualquer tipo de atitude insana. As pessoas usam a força do ciúme para controlar a vida das pessoas, pelas quais se dizem "apaixonadas", e se declaram de tal forma alucinada que perdem qualquer senso de ridículo ou de razão. E em nome do tal ciúme cometem as maiores atrocidades, as maiores maldades, coisas sem razão, sem sentido...
Podemos sentir ciúmes sim, mas não podemos tornar esse sentimento algo tão doloroso que nos faça querer punir a pessoa a qual direcionamos esse modo de sentir. Sentir ciúmes não pode ser algo tão descontrolado, que transforme uma relação afetiva em algo infernal, cercado de medos, desconfianças e do fantasma da traição. Porque o veneno mortal do ciúme deturpa tudo, quando alucinados não sabemos como controlá-lo, não sabemos como digeri-lo. O sentimento do ciúme nos põe à prova em todos os sentidos. Na nossa capacidade de aceitação, da medida do quanto realmente gostamos de alguém, de quanto amamos a nós mesmos ou o quanto somos equilibrados para saber administrar não só oque sentimos, mas a individualidade do ser supostamente amado.
É natural se sentir ciúmes, mesmo quando não somos muito adeptos, como eu, desse tipo de comportamento sentimental. Mas alguma coisa sempre nos espeta o peito, quando algo ou alguém que é alvo do nosso afeto, passa a ser cobiçado de alguma forma por outra pessoa. Quando nos roubam uma idéia, quando usam um objeto que nos pertence ou quando cobrem de exagerado afeto e atenção uma pessoa que gostamos. É complicado adminstrar esse tipo de coisa. Por mais racional que pareçamos ser, algo quase sempre nos foge ao controle e nos torna primitivos ao ponto de não assimilarmos aquilo que vemos de forma natural e aceitável. Nos colocamos numa posição de defensores de algo que achamos ter a posse e que na verdade nada mais é que um sentimento de insegurança camuflado. Algo que mal conseguimos controlar em nosso âmago. Mas quando esse sentimento estrapola tudo que é normal e aceitável, quando nos faz destilar veneno, aí sim o ciúme pode ser perigoso.
Sentir ciúmes é normal, transformá-lo em algo raivoso e descontrolado é extremamente perigoso. Seja para quem sente o ciúme ou para quem é vítima desse ciúme descontrolado. Devemos por isso pensar e repensar bem sobre oque temos sentido, em realção a quem gostamos, para que saibamos controlar o ciúme e não deixar que ele se torne algo mortal ou que nos torne duros e raivosos sem razão de ser.
Querendo ou não o ciúme sempre nos atinge de alguma forma, mesmo quando dizemos não senti-lo. Algo nele sempre nos toca, nos comove e caso tenhamos o relativo controle nos rouba a razão e o juízo. Já o ciúme sadio, aquece a relação, aumenta a vontade das pessoas estarem juntas e das pessoas cuidarem mais daquilo que possuem.
Que tenhamos o equilíbrio para diferenciar o ciúme do sentimento de posse, pois não devemos nos sentir e nem nos tornamos donos das coisas e das pessoas, mas sim parte delas, para que o sentimento flua sem os fantasmas e os medos do ciúme excessivo.
A força do amor sempre é maior que qualquer raso sentimento de ciúme. Lembro um trecho de uma canção do Caetano Veloso...
"O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Que nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro, canta..."
Beijos e abraços enfeitiçados.