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domingo, 5 de julho de 2020

FRESTAS...

Há frestas nas janelas e nas portas desta casa
Por onde na madrugada passa sorrateira a friagem
Tentando esfriar meu coração ainda em brasa
Sequela da sua meteórica passagem...

Há frestas no forro desta velha casa
Por onde passam halos de luz do Sol e da Lua
Pra iluminar esse resto de emoção tão rasa
Ou a sombra da sua presença seminua...

Há frestas nas cercas ao redor desta casa
Por onde as flores coloridas seus galhos insinuam
Reconto as horas pra conter o tempo que nunca atrasa
Enquanto nossos lúdicos afãs no jardim flutuam...

Há frestas nos pensamentos que habitam esta casa
Por onde minam nossos segredos mais obscenos
Expondo parte daquilo que nosso sentir embasa
Na explosão tranquila dos nossos dias amenos...

Há frestas nas palavras que ecoam nesta casa
Por onde dissemos o muito e o pouco de tudo
Palavra é um petardo que com o sentimento arrasa
Mas destruímos mais quando um de nós permanece mudo...

Há frestas nos olhos que se encerram nesta casa
Por onde a pueril visão a realidade não quis enxergar
Estejamos no Rio, Istambul ou Kinshasa
Os escombros dessa relação estão em todo lugar...

Há frestas nos vultos que assombram esta casa
Por onde nossos fantasmas interiores vem e vão
Mesmo quando gritamos, o medo não se extravasa
Nem na amaldiçoada presença dessa paixão...

Há frestas nos corações que pulsaram nesta casa
Por onde se infiltrou o sentir de cada momento
Toda vida que vivemos nem a distância defasa
Hoje somos frestas deixando passar, restos de um sentimento...


João C. Lima.

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